A postagem de hoje é especial para mim. Diferentemente dos outros álbuns citados até hoje nesse blog, o Falso Brilhante eu tenho em disco de vinil, como pode ser visto na foto dessa publicação. Ganhei de presente de um tio e embora eu tenha pouquíssimos LPs, eu adoro esse formato. Além da experiência musical totalmente diferente que o disco de vinil proporciona em relação ao formato digital, a capa ainda serve de decoração.
Falso Brilhante foi o nome dado a um espetáculo estrelado por Elis entre 1975 e 1977, quando foram realizados 257 shows atingindo um total de 280 mil pessoas, segundo a página http://www.ebc.com.br/cultura/2015/03/elis-regina-70-anos. Outras fontes afirmam que foram realizadas bem mais apresentações, mas o que vale é destacar a intensidade desse espetáculo e como foi importante para a música brasileira, tendo sido um marco na carreira da cantora e um grande sucesso nas bilheterias. Na época o jornalista Walter Silva escreveu para Folha: "O que dizer de um espetáculo que logo no primeiro número põe as pessoas da plateia em pé e em estado de semidelírio?". O link a seguir é uma entrevista com a Elis sobre essas apresentações com um trecho de Gracias a la vida, música também presente nesse disco. Vale a pena conferir essas imagens da TV Cultura e reparar na atmosfera circense e carnavalesca das apresentações:
Com o sucesso absoluto desse espetáculo, Elis Regina gravou parte do seu repertório em estúdio, dando origem a um dos melhores álbuns já gravados no Brasil. Belchior, Chico Buarque e João Bosco são autores de algumas das músicas desse álbum que claramente ganharam uma versão melhor na voz da maior cantora brasileira de todos os tempos. Como nossos pais, sua música mais conhecida, abre o disco da melhor forma possível. Não sou capaz de dizer quantas vezes seguidas já ouvi e me arrepiei com essa música. A letra trata do passado de uma juventude revolucionária e como ela lida com os fatos do presente, agora envelhecida. A estrofe abaixo me passa a impressão de uma certa desilusão com o romantismo dos sonhos e das paixões, lembrando que a vida de uma pessoa qualquer é mais importante que um canto, algo muitas vezes esquecido num cenário de radicalismo ideológico:
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa
A principal estrofe da música mostra como apesar de todos os sonhos e todas as aventuras, essa juventude ainda vive como seus pais, algo negativo segundo o autor por relacionar esse fato a um tipo de dor. Imagino que essa dor venha do fato de que os pais não deviam ser tão revolucionários assim, pelo menos sob ponto de vista dessa juventude, e ser como eles não devia ser algo planejado:
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais
A música que dá sequência a Como nossos pais também é de Belchior e também fala sobre a mesma temática, porém dessa vez de uma forma animada e até otimista. Enquanto a primeira destacada a dor, Velha roupa colorida demonstra a necessidade de se renovar de uma maneira até empolgada com as mudanças do futuro. Los Hermanos, do compositor argentino Atahualpa Yupanqui, é uma bela música interpretada magistralmente por Elis, porém sem o peso das duas primeiras canções desse álbum. Outra música desse álbum também cantada em espanhol é Gracias a la vida, da importante cantora chilena Violeta Parra.
Um por todos, Jardins de infância e O cavaleiro e os moinhos, todas do João Bosco, são músicas de letras fortes e com uma interpretação até agressiva de Elis, misturando rock com elementos da música brasileira. Por fim destaco Quero, um agradável folk que fala sobre um desejo de morar na floresta, e Tatuagem, do Chico Buarque, que supera com muita facilidade a sua versão original.
Falso Brilhante ocupa a trigésima sexta posição na lista dos cem melhores álbuns da música brasileira pela revista Rolling Stone e está disponível no Spotify no link abaixo: