terça-feira, 11 de setembro de 2018

Alucinação (1976)



   Volto a publicar no blog com a responsabilidade de falar desse álbum maravilhoso da forma como ele merece, missão difícil devido à grandeza desse artista que é o Belchior!
   Carregado de sentimento, o disco inteiro parece uma mensagem à geração sonhadora de Belchior, com desilusões, sonhos, medos, esperanças e uma fixação pelo novo. 
   Lançado em 1976, o disco contém as composições Como Nossos Pais Velha Roupa Colorida, que também foram lançadas por Elis Regina no mesmo ano no álbum Falso Brilhante, já citado aqui no blog. Autobiográfico, algumas canções como Fotografia 3X4 expressam com tristeza as dificuldades do artista que saiu do Ceará em direção ao sudeste brasileiro, até com um suposto recado a Caetano Veloso e sua alegria:

"Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua" 

   Os momentos de otimismo ficam com Sujeito de Sorte e  Antes do Fim. Na primeiraBelchior se descreve como são, salvo e forte, como um sujeito que anda ao lado de um deus brasileiro e que "morreu no ano passado", mas que nesse ano não morrerá de novo. Na segunda, deseja amor aos amigos, e que mantenham limpas suas mãos.  
    De tão rico de sentimento, fica difícil não copiar aqui trechos isolados das composições sem acabar copiando o disco todo, mas destaco a faixa-título do disco, tão escutada por mim em momentos de desapontamento com o cenário político nacional:

"Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais"

  Maravilhoso do início ao fim, Alucinação possui melodias tão leves e bonitas que se o escutarmos distraídos corremos o risco de não prestar atenção na poesia contida em cada música.  Porém, para que não esqueçamos da mensagem de Belchior, segue um trecho de A Palo Seco:
    
"Eu quero esse canto torto feito faca corte a carne de vocês"

   Por incrível que pareça, a revista Rolling Stone não inclui esse álbum na sempre citada lista dos 100 maiores discos da música brasileira. Imperdoável!

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Os Mutantes (1968)


   O primeiro álbum dos Mutantes foi lançado em 1968 ocupa a 9ª posição na lista de 100 melhores álbuns brasileiros de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Nele se encontram vários clássicos do lendário grupo de Rita Lee e dos irmãos Arnaldo Baptista e Sergio Dias, como Baby (tão conhecida na voz de Gal Costa), Bat Macumba e a minha favorita: Panis et Circenses.
   O álbum é recheado de parcerias com outros músicos da Tropicália, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor (é ele que toca violão em "Minha Menina") e Rogério Duprat, que cuida dos arranjos. Até por causa disso, muitas músicas deste disco foram gravadas também por esses outros artistas em álbuns solo e também naquele que foi o marco do movimento, o  Tropicalia ou Panis et Circencis, também de 1968:


Ainda sem a pegada Rock n' Roll mais pesado dos discos Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972) e do Jardim Elétrico (1971) esse álbum de estreia representa com perfeição o movimento tropicalista, apresentando todas as influências e a psicodelia da época unidos ao ar irreverente e debochado do grupo.

Tive a sorte de ir num show dos Mutantes em 2016. Na verdade, de mutante mesmo só o Sergio Dias. Mesmo assim, posso dizer que fui ver essa lenda! Fiquei imaginando como devia ser mágico assistir o grupo com a Rita Lee nos vocais e o Arnaldo Baptista nos teclados. Pra aguçar um pouco a curiosidade e ajudar a sonhar com essa época, recomendo a leitura da biografia da Rita Lee, que devorei em pouquíssimo tempo de tão bacana:



Segue um vídeo da banda tocando Panis et Circenses:


"Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer"