quarta-feira, 15 de março de 2017

Do Romance ao Galope Nordestino (1974)



   Em 2013 me inscrevi num sorteio da Escola de Música de Brasília para ter aulas de viola caipira. Alguns dias depois da inscrição compareci na hora marcada no auditório da escola e fiquei esperando ansiosamente ouvir meu nome cada vez que falavam algo no microfone. Finalmente, depois de alguma espera recebi a notícia que eu tinha sido um dos sorteados. Ainda sem acreditar muito na sorte que eu tive, preenchi alguns papéis e voltei pra casa louco pras aulas começarem o quanto antes.    Após algumas aulas eu lembro que falei com total convicção para minha professora que aquela era a melhor hora do meu dia. Essa experiência fantástica durou apenas um ano, que é a duração do curso introdutório para alunos sem conhecimento prévio em música. A próxima etapa seria fazer a prova para ir para o nível básico. Acontece que essa época coincidiu com meu trabalho final de Engenharia e por medo de não conseguir me dedicar como era necessário na escola de música eu preferi não fazer a prova e abandonar por um tempo os estudos com a viola. 
   A experiência na escola de música, apesar de breve, me proporcionou muita coisa que nunca vou esquecer. Era muito bom chegar na escola e ver tantos alunos espalhados tocando seus instrumentos musicais, interagindo e fazendo um som junto. Conheci músicos fantásticos e tive uma ótima professora, que além de muito paciente nas aulas, me mostrou muitos artistas que eu nunca tinha ouvido. Entre eles o Quinteto Armorial, cujo álbum Do Romance ao Galope Nordestino é tema da postagem de hoje.
   Quinteto Armorial foi o nome dado a um grupo pernambucano de música instrumental formado durante a década de 70 que fez parte do Movimento Armorial, que foi um movimento cultural que teve como um dos idealizadores o grande Ariano Suassuana. Seguindo a proposta do movimento, o grupo combina de maneira genial elementos da cultura regional do nordeste com arte erudita, contendo na mesma música instrumentos que vão da viola caipira ao violino. O disco dessa postagem foi o primeiro lançado pelo grupo, no ano de 1974, e INFELIZMENTE não está no Spotify. Como eu quero muito que todos ouçam esse disco vou disponibilizar o link do Youtube mesmo. Apreciem sem moderação: 

sábado, 4 de março de 2017

Zé Ramalho (1978)


É do primeiro disco de Zé Ramalho, lançado em 1978, a origem de vários clássicos da música brasileira como AvôhaiChão de Giz Vila do Sossego. O disco teve a participação de Patrick Moraz, tecladista que tocou na banda inglesa Yes e também com Lulu Santos e Lobão na banda de rock progressivo Vímana, em sua passagem pelo Brasil. 
Avôhai, música que abre o disco e possui um som de teclado muito marcante, além de ser uma homenagem ao avô de Zé Ramalho é uma  grande viagem psicodélica que fala de até de cometas e alterações da consciência. A inspiração para compor essa música veio de experiências com cogumelos alucinógenos, como consta no livro "Zé Ramalho — O Poeta dos Abismos". O cantor revelou que o nome Avôhai foi revelado durante uma dessas experiências e significa Avô + Pai (o cantor foi criado pelo avô após a morte do pai). Coloco aqui um trecho do próprio Zé Ramalho falando sobre essa canção:
"Ela chegou de uma vez. (...) Peguei papel e caneta e fiz a letra muito rápido, tudo chegava em um turbilhão. Foi a única vez que isso aconteceu, uma forte e intensa experiência espiritual. Muito estranho... totalmente mediúnica. Como o velho Billy [William Shakespeare] dizia, ‘há muito mais coisas entre o céu e a terra do que podemos imaginar’. Havia muita coisa de [Bob] Dylan pairando em minha cabeça. Eu ouvi como se fosse a voz dele. Quando fiz a letra, já sabia dos movimentos musicais; quando estava escrevendo, já sabia das passagens todas. A letra chegou junto com a melodia, e descreve minha experiência"

Pra quem quiser ler mais sobre essa música, recomendo a seguinte leitura: 


Vila do Sossego é minha música favorita desse disco. Possui um belo vocal de apoio e uma letra enigmática com várias rimas como no verso "Que normalmente, comumente, fatalmente, felizmente, displicentemente o nervo se contrai". Papillon, citado no começo da música, foi um homem acusado de assassinato que cumpriu sua sentença de prisão perpétua na costa da Guiana Francesa, tendo realizado várias tentativas de fuga durante sua vida. Durante várias torturas que Papillon sofreu foram várias as ocasiões em que ele refletiu sobre trair ou não seu companheiro de fuga. A vida de Papillon é tema do filme de mesmo nome, gravado em 1973 com um elenco que conta com Steve McQueen e Dustin Hoffman. O fato de Papillon ter sido citado na música junto com temas como casamento e documentos abre caminho para interpretações que indicam que a música fala de traição no casamento, como foi escrito de maneira muito interessante no link abaixo:


Chão de giz, que vem logo em seguida, é uma das músicas mais famosas do cantor e fala, entre vários assuntos, de sexo e loucura "Queria usar, quem sabe uma camisa de força / Ou de vênus". A música também trata claramente de um término de relacionamento, com o cantor repetindo no final: "no mais, estou indo embora".

Destaco desse disco também a instrumental "Bicho de sete cabeças", que conta com a participação de Geraldo Azevedo, e "Dança das borboletas", que possui um clima assustador, algo que chega a lembrar Black Sabbath em alguns momentos. O solo de guitarra dessa música fica por conta de ninguém menos que o inconfundível Sergio Dias, dos Mutantes. A maior banda de Metal do Brasil, o Sepultura, já fez uma versão dessa música com o próprio Zé Ramalho nos vocais, como pode ser visto no vídeo abaixo:


Apesar das músicas desse álbum serem facilmente encontradas no youtube, ele infelizmente não está no Spotify, então dessa vez não tem link =(